Magistrado diz ter sido alertado sobre possibilidade de sofrer represálias nos próximos meses
Felipe Recondo, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, que comandava a
Operação Monte Carlo, relata ser alvo de ameaças de morte, revela que homicídios
podem ter sido cometidos por integrantes do esquema do contraventor Carlinhos
Cachoeira e pede para ser tirado do caso.
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Em ofício encaminhado no último dia 13 ao corregedor Geral do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, Carlos Olavo, o juiz federal afirma não ter mais
condições de permanecer no caso por estar em "situação de extrema exposição
junto à criminalidade do estado de Goiás". E para evitar represálias, revela que
deixará o país temporariamente.
No documento, a que o Estado teve acesso, o juiz relata que
segue esquema rígido de segurança por recomendação da Polícia Federal, mas
revela que sua família foi recentemente abordada por policiais e diz que foi
alertado da possibilidade de sofrer represálias nos próximos meses.
"Minha família, em sua própria residência, foi procurada por policiais que
gostariam de conversar a respeito do processo atinente a Operação Monte Carlo,
em nítida ameaça velada, visto que mostraram que sabem quem são meus familiares
e onde moram", diz no documento.
Lima indica que investigados pela Operação Monte Carlos podem estar
relacionados a assassinatos cometidos recentemente, o que configuraria queima de
arquivo. "Pelo que se tem informação, até o presente momento, há crimes de
homicídio provavelmente praticados a mando por réus do processo pertinente à
Operação Monte Carlo, o que reforça a periculosidade da quadrilha", relata.
Nas cinco páginas em que explica o pedido para deixar o caso, Lima elenca os
recentes processos polêmicos que comandou. À frente da Operação Monte Carlo, 79
réus foram denunciados, sendo 35 policiais federais, civis e militares. E por
ter determinado o afastamento dos policiais de suas funções, afirma que não pôde
ser removido para varas no interior do Estado "por não haver condições adequadas
de segurança".
Em setembro, Lima afirma que tirará os três meses de férias que teria
acumulado e sairá do país por "questões de segurança". Mas mesmo assim afirma
que ficará marcado por sua atuação neste caso. "Infelizmente, Excelência,
Goiânia/GO é uma cidade pequena, onde todos se conhecem, e terei que conviver
com as consequências da Operação Monte Carlo e dessas outras operações por muito
tempo, principalmente porque nasci e fui criado nesta cidade", afirma o juiz.
Suspeição. O juiz federal titular da 11ª Vara em Goiás, Leão
Aparecido Alves, deve herdar o comando do processo. Mas suas relações pessoais
podem colocá-lo sob suspeita. Alves admitiu, recentemente, ser amigo há 19 anos
de um dos investigados - José Olímpio de Queiroga Neto, suspeitado de ser o
responsável pela escolha de pessoas que poderiam integrar as atividades do grupo
e de repassar porcentagem dos lucros das casas de jogos a Carlinhos
Cachoeira.
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