quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Helicóptero e blindados da Polícia Civil seriam usados por milícia, diz delegado

Em depoimento à Corregedoria, Cláudio Ferraz afirmou que operação legal encobriria ação da milícia para tomar favela; e que Chefia de Polícia sabia da operação

Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro
O delegado Cláudio Ferraz, da Draco, afirmou em depoimento à Corregedoria Interna da Polícia Civil que um helicóptero e carros blindados da corporação seriam usados em operação na favela da Coreia (zona oeste), com o conhecimento do então chefe de Polícia Alan Turnowski, para ajudar milicianos a tomar a comunidade. A afirmação foi feita por Ferraz segunda-feira, em depoimento obtido pelo iG.
Na segunda, Turnowski lacrou a sede da Draco sob o pretexto de uma correição extraordinária. Para muitos, foi uma represália ao fato de Ferraz ter iniciado a investigação da Operação Guilhotina, da Polícia Federal. A apuração resultou na prisão de 30 policiais civis e militares, inclusive do delegado Carlos Oliveira, braço-direito e subchefe de policia na gestão de Turnowski. Entre outros crimes, os agentes são suspeitos de integrar milícias e fazer extorsões.
No depoimento, o titular da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) responsável pela prisão de mais de 600 integrantes de milícias afirmou que o chefe de Polícia Allan Turnowski, exonerado nesta terça-feira (15), tentou inúmeras vezes tirá-lo da função e esvaziar investigações contra seus aliados.
Operação da Polícia Civil a serviço da milícia
De acordo com Ferraz, em abril de 2010, apurou-se que estava sendo planejada uma operação na favela da Coreia, envolvendo policiais militares, civis e milicianos “para tomar de assalto as armas e prender os criminosos que atuavam na localidade”.
“Nas interceptações também conseguiu levantar que essa diligência seria realizada oficialmente e com o apoio da Chefia da Polícia Civil”, diz trecho do depoimento. Na ocasião, o chefe de Polícia era Allan Turnowski.
Segundo o delegado, a ação ocorreria sob a aparência de legalidade, com a existência de um inquérito policial. “Tudo estava de acordo com os trâmites legais, visto que existia inquérito policial instaurado e que seriam empregados diversos homens e viaturas oficiais, com o apoio inclusive do veículo blindado e do helicóptero da PC e que, paralelamente a essa diligência oficial, também seriam escalados milicianos para a tomada do território, armas e dinheiro dos criminosos”, afirmou Ferraz.
O delegado disse ter relatado esses fatos ao diretor de polícia especializada, que lhe prometeu levar ao conhecimento ao chefe de Polícia, Turnowski. De acordo com ele, “em seguida”, observou-se nos áudios “que o alvo havia mudado e que a oficialidade da operação estaria agora a cargo do 14º BPM (Bangu)”.
"Elite da Tropa 2"
Ferraz afirmou que na elaboração do esboço de "Elite da Tropa 2", do qual é co-autor, “colocou todos esses fatos que vivenciou em sua vida profissional de forma fictícia, fazendo-se menção nessa obra, de forma também fictícia, à operação desencadeada na favela da Rocinha visando à prisão do traficante Roupinol e que não foi bem-sucedida em virtude de um novo vazamento de informações policiais”. No livro ele incluiu referências a esse episódio envolvendo a operação na favela da Coreia.
O delegado Allan Turnowski não foi encontrado pela reportagem para comentar as declarações de Ferraz.

Um comentário:

  1. Em tempos passados no rio tudo era possivel pela bandidagem.
    ATT
    ronaldograuna@hotmail.com

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