terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

“Clamor público faz priorizarmos a busca aos foragidos famosos”

Novo delegado da Divisão de Capturas da Polícia Civil de São Paulo afirma que prender Mizael Bispo e Roger Abdelmassih é dar resposta à sociedade


Foto: Lecticia Maggi, iG São Paulo
Milanesi assume Divisão de Capturas com desafio de reorganizar equipe e melhorar produtividade
A polícia de São Paulo tem hoje cerca de 152 mil mandados de prisão para cumprir. Destes, aproximadamente 134 mil foram expedidos no próprio Estado e, o restante enviado de outras partes do País por investigadores considerarem que o foragido possa estar na região.
Neste montante de milhares de procurados – alguns há mais de 20 anos – cinco nomes se destacam e devem receber atenção especial do novo delegado da Divisão de Capturas da Polícia Civil, Waldomiro Milanesi, que assumiu no último dia 20. São eles: Roger Abdelmassih (acusado de crimes sexuais contra ex-pacientes), Mizael Bispo de Souza e Evandro Bezerra Silva (acusados pela morte da advogada Mércia Nakashima), Jonathan Lauton (acusado de agredir homossexuais na avenida Paulista) e o pagodeiro Evandro Correia (acusado de matar a ex-mulher e tentar matar o filho, por eles caírem do 3º andar de um prédio em Guarulhos). Os advogados do acusados ouvidos pela reportagem afirmam que seus clientes não têm qualquer intenção de se entregar. A maioria considera a prisão arbitrária e aguarda o julgamento de recursos.
“Tem importância prender esses cinco indivíduos justamente para mostrar à população que o poder público não participa da conduta dessas pessoas. O clamor público faz priorizarmos esses casos”, afirma Milanesi, em entrevista ao iG, da sala em que hoje ocupa no 7º andar do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), no centro da capital.
Segundo ele, é preciso acabar com a ideia de impunidade. “Acho válido priorizar cinco, dez ou 15 casos para dar resposta à população: não cometa crime que você vai preso”. Para isso, porém, destaca que é preciso “informatizar, desburocratizar e agilizar” o processo.
130 mil por ano

Foto: Lecticia Maggi, iG São Paulo
Em pastas organizadas por ordem alfabética estão todos os cerca de 152 mil mandados de prisão em aberto. Por ano, chegam cerca de 130 mil

Atualmente, a Divisão de Capturas tem, além dos funcionários administrativos, apenas 12 policiais para direcionar e cumprir de 300 a 500 mandados novos por dia. Por ano, a média é de cerca de 130 mil ordens, sendo que, segundo o delegado, entre 70 e 90 mil são cumpridas. Dados de uma planilha a que o iG teve acesso mostram, por exemplo, que em março de 2010 foram cumpridos 120 mandados no Estado; em abril, 75. “Acho até que pela equipe que se tem, se faz muito”, considera.
Ainda assim, o trabalho é insuficiente e as ordens se acumulam em caixas de papelão, organizadas por ordem alfabética. Em uma mesa, uma jovem checa papel por papel para saber se não há uma contra ordem (que revogue a prisão) ou se, eventualmente, o acusado já foi preso em outra cidade.
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Em uma prateleira afastada das demais estão ordens anteriores a 2010. Algumas são da década de 80, como a de um homem acusado de matar um travesti em 1986 e com mandado de prisão para ser cumprido desde 1988. Daqui a 4 anos, o crime prescreverá.
“Temos processos de fóruns que já nem existem mais, foram unificados. Há mandado para pessoa com nome falso ou até prenome, como ‘Marquinhos’. Temos de ver se a pessoa não morreu, se o mandado teve alteração... É um limbo que precisamos identificar e consertar”, diz.
Além dos entraves da Justiça, Milanesi aponta também que, com o passar do tempo, o procurado sofre mudanças físicas e isso também pesa contra a captura. “É importante a rapidez para fechar o cerco, divulgar para os policiais de divisa e evitar que a pessoa vá embora do País.”
Plano de açãoEntre as primeiras ações de Milanesi à frente da Divisão de Capturas está uma solicitação à Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo, a Prodesp, de um levantamento para saber pelo que são acusadas as pessoas procuradas. Hoje, sabe-se somente que há na capital paulista 23 mil mandados criminais e sete mil civis, referentes à pensão alimentícia.

Foto: Lecticia Maggi, iG São Paulo Ampliar
Mandado de prisão contra homem acusado de matar travesti data de 1988
Contudo, não é possível determinar quantos ali são acusados de assassinato, tráfico de drogas ou estupro, por exemplo. “Todas as ordens são importantes, mas, com o estudo, poderemos identificar e priorizar as pessoas com grau de periculosidade maior. Queira ou não queira, são aqueles que estão reiterando no crime: assaltantes, homicidas”, afirma.
Outra mudança prevista é a informatização de todos os mandados de prisão. Milanesi explica que quando um policial aborda um suspeito e acessa sua ficha aparece apenas que ele é procurado e por qual motivo. Mas, para saber se o mandado ainda é válido, é preciso ligar no plantão 24h que funciona na Divisão de Capturas para que um funcionário procure nas pastas e cheque a informação no papel. “O policial só vai olhar no sistema e ver tudo ali, não precisará ligar aqui para mandarmos por fax a cópia do mandado”, ressalta ele sobre a economia de tempo que se teria com a digitalização.
Ele explica que as mudanças estão dentro do previsto e não deve haver recurso extraordinário para isso. Além das melhorias de sistema e compra de novos equipamentos, Milanesi afirma que policiais já estão sendo transferidos de outras seções para a de Capturas. Ainda em fevereiro, espera que terá, ao invés de 12, pelo menos 30 pessoas.
Assim, acredita, será possível dividir melhor a equipe e dinamizar os trabalhos. “Policiais com perfis operacionais, até mais jovens, com aprimoramento de academia da policia, estão vindo para cá, para ações de perigo”. Segundo ele, é preciso saber lidar com os diferentes tipos de prisão. “O marginal quer fugir e confrontar. Já o cidadão comum (caso de pensão alimentícia) pode se sentir psicologicamente ofendido e, em um descuido, pular de um carro, do apartamento. Para eles, ser preso é muito constrangedor.”

Foto: Lecticia Maggi, iG São Paulo Ampliar
Policial Francisco Morais mostra pilha de mandados
Ajuda da população
O delegado ressalta que, apesar das ordens estarem concentradas em uma divisão, é “obrigação de todos os policiais investigarem”. “Não cabe só a essa divisão a captura. Uma comarca do interior expede ordem de prisão e manda para cá, para a gente inserir no sistema, mas vai para toda a polícia”, diz. “Todo cidadão que tenha conhecimento de onde está uma pessoa foragida também deve ligar para o 190, comunicar um guarda, um policial para que se faça o cumprimento”, enfatiza.
Milanesi já atuou em delegacias do interior do Estado, comandou a Divisão de Investigações de Crimes contra o Patrimônio, do Deic (em 2009), e trabalhou na assessoria da Secretaria de Segurança Pública. Aos 47 anos, sendo 22 deles como delegado, confessa ter se surpreendido com o alto número de foragidos no Estado. “Se falassem que era 10 mil eu já achava muito”, diz ele, que acrescenta também que isso é sinal de que houve trabalho da polícia. “Denúncia, Boletim de Ocorrência, inquérito, processo e decretação da prisão”.
Até março, afirma que já deve conseguir reorganizar o trabalho, “com policiais designados e cruzamento de dados”. “Podemos ter falhas no processo de trabalho e capturas, mas não impunidade”.

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