segunda-feira, 1 de março de 2010

A ARMA QUE FALTAVA


Revista Época

O governo do Rio passa a premiar com dinheiro os bons policiais. A ideia parece dar resultado
LEOPOLDO MATEUS
O que é um bom policial? Ele deve combater o crime. Como diz o lema de muitas corporações, “servir e proteger”. Um bom policial não aceita suborno, não abusa de sua posição, não forja flagrante, não rouba e não mata – exceto em legítima defesa. Deveria ser assim sempre, mas não é. No Estado do Rio de Janeiro, esses modelos de bom comportamento começaram a ser premiados. Nove mil policiais civis e militares acabam de ganhar quatro tipos de bônus: R$ 500, R$ 750, R$ 1.000 e R$ 1.500. Os prêmios, semestrais, são destinados a quem cumpriu metas de redução de criminalidade, estipuladas pela Secretaria de Segurança. O bônus custou R$ 6 milhões ao Estado.
A gratificação pode ajudar o PM a estudar, a abandonar um “bico” e a se dedicar ainda mais à corporação. “Vou usar para pagar um curso de preparação para a prova de oficial da polícia”, diz o soldado Wagner Luís, de 29 anos, dessa primeira leva de PMs premiados. Ele ganhou o bônus máximo. Seu salário mensal é R$ 970 líquidos. Filho e neto de policiais, ele afirma que seu maior prazer é a consciência do dever cumprido. “Toda vez que prendo um ladrão e enxergo o alívio nos olhos da vítima, sinto a maior alegria. Uma vez recuperei uma moto de R$ 90 mil. O dono me ofereceu de tudo. Eu disse a ele que já tinha o que queria, a satisfação dele.” Wagner costuma comandar os grupos em que trabalha. “Uma vez, eu e um colega fomos atender um homem que passava mal. Enquanto eu o levava para a viatura, meu colega tirou R$ 50 da carteira do cidadão. Eu disse para ele devolver. Ele me ofereceu metade. Eu recusei. Ele devolveu.”
O bônus tem o valor simbólico de reconhecer os exemplos a ser seguidos numa corporação que não é bem-vista pela sociedade. Um estudo do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, em 2009, mostrou que apenas 34% dos moradores do Rio confiam na polícia. O programa de valorização da polícia foi inspirado num Estado vizinho, Minas Gerais, pioneiro na premiação de policiais por índices menores de criminalidade. Em Pernambuco, os prêmios são por apreensão de armas. Embora seja prematuro avaliar os efeitos, os casos de latrocínio (roubo seguido de morte) no Rio caíram 16% no último semestre, em relação ao mesmo período de 2008. Doze dos 40 batalhões superaram as metas na redução de roubos de rua e de carro. Nos homicídios dolosos, o desempenho ficou aquém: a meta era reduzir em 11,7%, mas a redução foi de 9%.
Nenhum sistema de remuneração por resultados é imune a falhas. Ele deve ser aprimorado para não distorcer a realidade nem cometer injustiças. O bônus por mérito, sozinho, não leva a nada se não for acompanhado de políticas consistentes de inclusão social e de segurança pública. Mas, para o ex-secretário Nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente, “esse é um passo para a profissionalização do policial”. Não é pouco. Perceber a paixão e a confiança do jovem soldado Wagner Luís nos serve de inspiração: “Nunca quis ser rico. Grandes poderes requerem grandes responsabilidades. Uso meu trabalho para transformar a realidade”.

Um comentário:

  1. fico feliz que aida existam policiais como o Wagner Luís. Salário mais digno para as polícias.

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