terça-feira, 4 de agosto de 2009

Conto de João Molon Neto

Demirval, O Policial.
Todos os dias Demirval acordava bem cedo, tomava uma ducha bem gelada para acordar, fazia a barba com capricho, vestia sua farda, tomava um café bem reforçado, pegava sua mochila do tipo esportiva e ia pra luta, cumprir seu honroso dever. Demirval era um Homem que gostava muito do que fazia; defender a população contra os delinqüentes o fazia sentir-se útil e, isso o deixava muito orgulhoso e satisfeito. Demirval morava em um local considerado perigoso, todos sabiam que ele era policial, afinal sempre ia fardado trabalhar e nunca havia se intimidado com as freqüentes ameaças que recebia dos vândalos. Todo Policial sabe que viver honestamente na corporação é muito complicado, a barra é pesada, a pressão é muito grande e a confiança é algo raro, até mesmo entre os próprios policiais. Policial tem que estar sempre com o pé atrás, sempre atento, não tem descanso, não pode baixar a guarda e precisa ter nervos de aço e coração de ferro, porque sabe que sempre o tentarão atingir de todos os modos e se possível em sua parte mais sensível, muitas vezes esta parte é a própria família e amigos. Demirval sempre passava por alguns becos, reconhecia os malandros de plantão, apenas no olhar, afinal, policial que é policial, sabe distinguir gente honesta de quem não presta, tem uma intuição, um “feeling” pra coisa, pode-se dizer. Sempre que ele passava, eles acompanhavam-no pelos cantos dos olhos; feito ratos, como cobras, sempre se escondendo pelas sombras, sempre fitando-o, como se fosse um monstro, um inimigo, um demônio, como se ele fosse um marginal, uma praga que deveria ser extinta. Demirval por sua vez sempre passava leve por eles, apesar do peso da responsabilidade que tinha no dia a dia, ele sempre andava com passos firmes e medidos, cabeça erguida, olhar fixo e sério, mas nunca desafiador, seu olhar parecia mais como de alguém equilibrado, sereno e a acima de tudo, feliz por fazer cumprir a justiça, em ajudar as pessoas que necessitavam de sua proteção.Dia após dia, muito anos se passaram, mais de 15 anos de trabalho laboroso, muitas conquistas, honras recebidas, um exemplo de policial para toda a corporação. Mesmo depois de tantos anos, Demirval continuava a morar no mesmo local, convivendo com as mesmas pessoas, cumprindo sempre com o seu dever, nunca se omitindo, em hipótese alguma, seu nome era ação e seu sobrenome também. Mesmo quando tinha alguma ocorrência grave perto de sua casa, lá estava ele, era o primeiro a chegar e o último a sair, nunca pedia para que seus colegas, intercederem na localidade onde morava, embora pudesse fazê-lo. Ele enfrentava qualquer um, mesmo sabendo dos riscos e justamente por isso, adquiriu muito respeito, tantos dos colegas de trabalho, como dos próprios marginais. Um dia uma equipe estava fazendo a ronda na localidade onde Demirval morava, ele estava de folga neste dia. Ao se aproximarem de um matagal encontraram um corpo, ao descerem da Blazer para a averiguação, ambos policiais não se conteram e desataram a chorar compulsivamente, sim, era ele, Demirval, ele estava semi-nú, em uma posição vergonhosa, jogado sobre uma poça de sangue, todo estourado, com marcas de balas a queima roupa. Ao examinarem o corpo, viram que em sua boca colocaram as medalhas que ele recebera em anos de bons serviços prestados a sociedade, em inúmeros atos de heroísmo. Uma morte cruel, para um policial tão valente, de tanto valor, de grande e incomparável caráter, admirado por todos, ou quase todos, era o fim, o que sobrara além das lembranças, era seu corpo, mutilado, sendo consumido pelas bactérias, se deteriorando rapidamente sobre a terra amassada.Demirval morreu, dias depois três policiais foram presos, expulsos da polícia e condenados a prisão. Os malandros nos becos nunca mais viram Demirval passar por lá e talvez tenham sentido sua falta...
João Molon Neto

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