sexta-feira, 12 de março de 2010

Por uma nova Polícia Civil - 3

Luís Nassif, colunista do Último Segundo

Nas duas colunas anteriores foram mostrados dois processos que levaram à pulverização dos efetivos e da informação na Polícia Civil: a expansão descontrolada de Delegacias de Polícia e a criação de delegacias especializadas.
Quando essa dispersão reduziu a capacidade de investigação da Polícia Civil, em vez de uma reestruturação, resolveu-se criar centros de inteligência nas seccionais e nos departamentos – centralizados, dissociados das DPs.
É como se admitisse que as DPs não necessitavam de inteligência própria, com todas se reportando às unidades de inteligência da seccional, em vez de cada qual ser um centro de inteligência.
***A partir desse modo, a deterioração foi rápida. No campo das investigações, matou qualquer possibilidade de captar a abrangência do crime organizado. No tráfico de drogas, por exemplo, refina-se na área x, vende-se na área y, o dinheiro vai para a área z, com o dinheiro lavado, vai comprar armamento na área x, que será utilizado em crimes contra o patrimônio, na área z.
Desde os anos 90 era claro essa disfuncionalidade. Não adiantou.
***Quando criados os DPs, as informações não circulavam porque os delegados estavam preocupados apenas com seu território. Quando criadas as Delegacias Especializadas, a informação deixou de circular por vaidade institucional.
Criou-se um antagonismo deletério na PC, porque passou a ideia de supremacia: dois tipos de policiais, os especializados e os reles mortais que trabalhavam nas delegacias territoriais.
***É possível identificar vícios em todas as delegacias especializadas. Mas três críticas se aplicam a todas:
1. Foram criadas sem adoção de critérios técnicos.
2. A maioria dos integrantes não possui especialização nenhuma.
3. Monopolizam informações indevidamente.
***Pior. A pluralidade de estrutura levou a um aumento desmedido da demanda por novos efetivos. Passou-se a um processo de contratar muito e mal.
No primeiro concurso, em 1988, foram aprovados cem candidatos. Só 35 tinham condições de ser aprovados. Mas como havia DPs demais, reduziu-se a nota de corte e entraram 65 sem condições técnicas.
Nas duas décadas seguintes esse processo se repetiu e não apenas para a carreira de delegado, mas de investigador, escrivão, carcereiro.
Em vez de uma Polícia Civil espelhada no modelo do FBI, polícia de inteligência, investigação, criou-se um simulacro onde investimentos em viaturas, armas e efetivos não supria a falta de gestão e de um modelo institucionalmente eficiente.
***O quadro atual ficou assim:
1. Boa parte do efetivo são pessoas não vocacionadas.Entraram de maneira fácil, porque critério da escolha a quantidade.
2. Número expressivo de pessoas desprovida de estatura moral.
3. Não existe inteligência embarcada. O governo estadual gasta fortunas com equipamentos e softwares de última geração e não tem gente que saiba operar.
4. As DPs se tornaram meros órgãos notariais. Quando alguém faz um Boletim de Ocorrência, a única certeza é que haverá um registro no papel. Apenas isso.

Um comentário:

  1. Não sei se é uma luz no fim do túnel, ou vai parecer metidez, mas nossa turma IP 08, no processo seletivo houve uma grande preocupação em selecionar pessoas vocacionadas, principalmente nas entrevistas,e também da mesma forma ênfase em pessoal capacitado. Um nível de prova elevadíssimo, com acréscimo de prova escrita, mudança nas matérias com inclusão lógica de assuntos aplicados ( 6 matérias ) ao invés de história e geografia, dinâmica de grupo com setor de psicologia, além do TAP, TAF, etc.
    Espero que realmente dê bons frutos lá na frente. É um passo certeiro, pelo menos na teoria.
    Abraço
    Que venha a Acadepol

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